Há algumas verdades que quero sublinhar nessa declaração do “apóstolo do amor”. A primeira delas é que o discipulado é uma fonte de prazer. João poderia falar do peso, do trabalho, das decepções, das frustrações que todo fazedor de discípulos vive, especialmente por conta dos que não correspondem. Na verdade, ele não nega os problemas. Na sequência de sua breve carta, ele fala de Diótrefes, um obreiro infiel que perturbava a igreja, homem que gostava de “exercer a primazia” e que o rejeitava (v. 9). Entretanto, o foco de João estava colocado nas pessoas certas, as fiéis como Gaio, e por elas sentia uma intensa alegria.
É muito importante destacar o prazer de se formar discípulos. Muitas pessoas ficam travadas e não se lançam a este chamado porque fazem mais a conta dos custos do que a dos resultados.
Quando Jesus praticou o discipulado, não o fez sob a perspectiva do fardo e nem passou adiante essa ideia. Investindo em seus doze – e João era um deles – o Mestre era tomado por um sentimento de prazer. Suas palavras, depois de três anos investindo naqueles discípulos, eram: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste” (João 17:24). Havia apego naquela relação! E quando o Senhor pensava em sua equipe se reproduzindo, levando adiante a visão do discipulado, não perdia de vista o senso de realização que aquela tarefa deveria trazer-lhes: “Mas, agora, vou para junto de ti e isto falo no mundo para que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos” – João 17:13.
Na verdade, ao dar seu testemunho, João não fala apenas do prazer que sentia em ver o resultado do seu trabalho na vida dos verdadeiros discípulos, mas fala que esse prazer é incomparável. Suas palavras são: “não tenho maior alegria do que esta”.
De onde vinha tanto senso de realização? Creio que, antes de tudo, isso brotava de um coração que amava a Deus. Sabendo do valor que pessoas têm para o Pai, João fazia do discipulado uma forma de revelar sua devoção.
Havia, porém, uma consciência em João que mantinha sua visão na direção correta. Ele entendia discipulado como exercício de paternidade. A expressão que ele usa para descrever Gaio e outros discípulos fiéis é “meus filhos”. Isso tem implicações muito profundas!
Em primeiro lugar, existe um envolvimento afetivo no discipulado. Ele não é técnico, frio, uma relação que busca apenas resultados. Não se trata de chefia ou gerenciamento de pessoas. O verdadeiro discipulador gera e cria filhos na fé. O verdadeiro discípulo aceita e desfruta de paternidade. Nessa relação, existe autoridade, mas ela é temperada pelo amor.
A outra verdade que acho importante destacar quanto à paternidade que se exerce no discipulado é que filhos não são criados para prenderem-se aos pais eternamente. Pode parecer injusto, mas não os criamos para nós mesmos! Somos responsáveis por eles durante o tempo necessário, mas tudo o que fazemos é para liberá-los a fim de que cumpram sua missão. Os laços de amor devem ser mantidos, mas os de dependência devem se romper um dia. E se laços de propriedade forem estabelecidos, estarão corrompendo a proposta bíblica do discipulado.
Quando Jesus, no capítulo 17 de João, faz sua oração de prestação de contas diante do Pai, Ele diz sobre seus discípulos: “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (v. 9). Percebe a ideia? Discípulos são pessoas que o Pai “me dá” por um tempo, mas seguem sendo d’Ele!
Dizer isso é muito importante, pois alguns discipuladores permitem que a afetividade se torne mais forte do que o propósito. Assim, quando têm os seus discípulos requisitados, ou quando eles mesmos traçam um caminho que não deve ser seguido pelos discípulos, têm dificuldade de liberá-los e acabam trazendo prejuízos para o reino e para suas vidas. Eu mesmo já tive que liberar vários discípulos, homens que gostaria de manter comigo, mas que o Senhor pediu para sua obra... Normal! É para isso também que servem os pais.
Esta verdade é tão relevante que João justifica sua alegria no fato de que seus filhos “andavam na verdade”. Seu senso de realização não derivava da ação de mantê-los presos junto a si, mas de vê-los avançando, caminhando, progredindo na verdade, ainda que distantes dele, como era o caso de Gaio.
O verdadeiro líder, aquele que ama o reino de Deus, não se ocupa em criar reinos pessoais e nem se realiza em perpetuar-se. Ele vive para multiplicar e espalhar discípulos pela terra – pessoas que andam na verdade.
PUBLICADA EM: 24/04/2015 10:16:32 | VOLTAR PARA Reflexão | OUTRAS PUBLICAÇÕES
FONTE: Pr. Danilo Figueira